No Ipod a melodia suave de Sigur Rós acompanha, a compasso, o inicio de marcha do Intercidades. Ainda em Lisboa, divido a atenção entre a janela e as ultimas páginas livres do Moleskine, enquanto deixo escorrer a tinta azul da eterna Parker, para o caderninho preto.
No horizonte (rendo-me) surgem as palmeiras do Siza sob um sol dourado delicioso e com uma luz perfeita. Sorrio. Perfeita, é exactamente a palavra para esta luz… para esta tarde. Não é exuberante, transcendente, sublime, brutal, outro sinónimo ou todos juntos. Não. Perfeita, porque a perfeição é simples, livre, sem expectativas, sem julgamentos, sem sombras.
Que lugar fantástico este que se pinta a dourado na minha janela. Cada lugar que guardamos na memória, tem uma cor, um cheiro e uma luz que os distingue dos outros, que os torna únicos. Há dias divagava com uma amiga sobre como há sítios assim e pessoas que acabam por se transformar em lugares favoritos.
Hoje encontrei alguém que me lembra um lugar que julgava único. Hoje encontrei alguém que me lembra Praga. Praga é única porque não tem uma cor, tem várias e é belíssima mesmo em tons de cinza-chuva. Praga não tem um cheiro, tem todos, cheira a cidade, a passado, a Europa, a leste, a presente, a sol, a infância, a lugar secreto, a abrigo, a palco, a futuro. Praga não tem um sabor, tem os melhores sabores de todo o mundo… daqueles que guardamos na memória, sentidos e saudade durante anos.
Praga fica em nós. Não se entranha porque, embora existam aqueles que a consideram desarrumada, inacabada ou produto em bruto, Praga é dos sítios mais delicados que conheço. Praga fica em nós sim, mas por osmose, num processo tão imperceptível quanto natural.
Mas Praga não é fácil e jamais será possível conhece-la por inteiro. Praga é por isso um desafio, exige que o passaporte apresente diversos carimbos para que a possamos viver, conhecer e desfrutar. Obriga-nos a fazer uma janelinha com os polegares e indicadores e analisar calmamente bocadinho a bocadinho, como se de um puzzle se tratasse. E Praga é precisamente isso, um puzzle feito de bocadinhos perfeitos e lindíssimos e outros estranhos e confusos. Unidas, as peças formam sentido num todo magnífico que tem ainda a magia de apresentar diferentes faces em diferentes ângulos a diferentes luzes ou mãos.
Praga não tem os marcos de Paris, a arquitectura de Barcelona, a bipolaridade de Budapeste, a cultura de Viena, a organização de Copenhaga, os sonhos de Londres e da sua Neverland onde seremos para sempre crianças ou o 24/7 Non Stop de Nova York. Praga não tem nada disto porque Praga não tem rótulo. Praga não tem nada disto porque Praga tem tudo isto, dependendo apenas da hora, da luz, do ângulo, da janelinha que naquele momento analisamos. Praga é dona de um brilho impar que nos aquece o corpo, faz cócegas na alma e deixa sorriso no rosto.
PS & Head fake: o título não engana, aos mais distraídos avisa-se que este texto não é sobre Praga, e sim Lisboa. Lisboa na língua da cidade dos snow globes, pintada com uma luz imensa e brilho contagiante. Lisboa ao som, cor e espírito (islandês) de Hoppipolla (em português Salta-Pocinhas).
8 comentários:
Não consigo fazer a revisão deste texto. Sorry. Hoje alguém me dizia que jamais usaria a palavra "amiga" para me definir. Hoje alguém me dizia que não escreveria "sobre isto". E eu confiei em ambas as afirmações. Confiei com confiança de Sagitário sorridente. E agora li o texto e vi o vídeo e senti-me defraudada. Mas para bom. E surpresas boas, só à razão de uma por dia, e eu já tinha tido a minha. Mais do que uma surpresa boa por dia faz-me... chorar. E ser incapaz de rever seja o que for.
Um beijo grande, e um abraço maior
Ah, e senti-me muito parva, muito pequena, por ter dito, apenas há uns minutos atrás, que tinha escrito um post bom. Depois venho aqui e dou com isto...
Vou ali já venho, pintar a cara de preto, que é uma cor linda, que vai bem com tudo...
PS2 - A linha não era a três?
Bem por onde começar! Pim, Pam, Pum.. "FIM", seja:
- estive 10 minutos a tentar perceber a linha três.. e se a configuração do blog apareceria diferente em outros browsers ao ponto da minha linha 6 ser a 3. Finalmente percebi! Mesmo com o auto-desconto da quase directa e mouro-trauma Faço vénia e clap clap a essa saída!
- só alguém parvo confia num sagitário. Há alguém mais aldrabão, para as coisas boas? Pior alguém que num telefonema passa de Vila Real a Lisboa em 2 segundos!
- por ultimo o prometido foi cumprido, só falo da viagem de regresso e logo do pós-frase heheh ;)
Não sei se chegaste a ir pintar a cara de preto.. mas sei que 90% dos telhados de Praga (vista da Torre do relógio astronómico), são verdes. Verde jade, verde calcário. E segundo a teoria de alguém que comigo visitou Praga (e várias outras), tudo o que tem telhado verde é lindo e vale a pena ser visitado. Enfim, teorias.
Ok já sorri ...
;-)
mas já agora, porque é que pensaste que eu era Sagitário !?!?
bjs doces
Pescador
Adorei o Post... embora ainda não tenha feito as pazes com cidade de Lisboa !!!
Vislumbro-a do outro lado do Tejo...
Mas é uma cidade unica ... apesar de tão maltratada...
:-) !!!
Bjs
Pescador
Pecador,
características que nestes anos guardei de ti. A principal "O Optimista" ;)
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