quinta-feira, 29 de abril de 2010

Agradecimentos

Acho que teses do princípio ao fim, nunca li. Já pesquisei em dezenas, mas ler da primeira à última linha: Nem a minha. Já dedicatórias e agradecimentos de teses, devo ter lido seguramente para cima de 200.

A minha orientadora reconhece qualquer frase das 245 páginas do seu PhD a uma distância considerável de anos... mesmo que enfiada no texto de outra qualquer pessoa. Eu, as únicas palavras que sei, reconheço, sinto e identifico como minhas são os agradecimentos.

Os agradecimentos são e devem ser a única parte pessoal da tese. Há quem coloque poemas, passagens da bíblia ou citações capazes de introduzir ou resumir a tese antes mesmo de enunciar a lista de nomes que contribuíram directa ou indirectamente para aquele momento. Há quem agradeça ao cão, ao gato. Há quem agradeça a si próprio.

Já li teses de várias áreas, de várias academias, de vários países. Ainda assim, é dos agradecimentos brasileiros que sempre gosto mais. A forma simples, directa, sentida como agradecem a Deus, aos pais, aos filhos e ao amor da vida deles. A forma quase descarada como usam e “profanam” um trabalho académico, desprovido de sentimentos, com um sem número de «amo você».

Eu, na minha primeira tese, crente que seria também a ULTIMA, fiz quase de tudo um pouco: Dedicatória, citação introdutória e capaz de resumo («Não basta dar anos à vida, e sim, vida aos anos.» Katz, 1983) e agradecimentos que iam do mais formal ao pessoal e até humorístico.

São parágrafos individuais, ao longo três paginas e meia… MINHAS… onde até se inclui «… ao Rapaz, por ter em reparado o carregador do portátil e permitido que esta monografia fosse concluída em tempo útil». O Rapaz, que não conhecia, era o namorado da minha antiga professora e recente madrinha de curso. Nunca o tinha visto e ainda assim ofereceu-se para numa noitada reparar o carregador do meu Asus que deixou de funcionar de um segundo para o outro. Com a bateria estava OUT e a 48h da entrega, não tinha a tese em mais lado nenhum a não ser dentro do disco de um portátil XPTO para o qual o único carregador compatível era o próprio da marca e na altura só disponível directamente na ASUS em Viseu.

O rapaz, que nunca tinha visto até então, não me salvou a vida, mas salvou a tese. No dia da defesa, já de vinte no CV mas ainda de camisa, colete e tacão, conheci-o e paguei-lhe o café. Agradeceu-me com um sorriso feliz e sincero, o agradecimento, surpreendido pela lembrança e consideração.

Por várias razões, consto já nos agradecimentos de algumas teses. Algumas e por motivos profissionais são citações nada mais que justas. Cordiais. Mas as outras, que do e pelo nada nos agradecem, (por sermos quem somos? porque paragrafo algum e virgula nenhuma acrescentamos ou corrigimos à tese) fazem de nós melhores pessoas, em papel.

Essa lembrança inesperada e quiçá injusta, deixa sempre um sorriso sincero e agradecido, no rosto, na alma. A nós.

2 comentários:

Jade disse...

Por seres quem és, porque sendo assim ajudas os outros. Muito, tanto que te tornas indispensável. Mais do que justo, o meu muito obrigada.
Beijos

Shadow disse...

Querida, estou sem palavras para ti.

Um beijo, GRANDE. Ou mil vá.