Agora que o tabaco custa uma, já nada pequena, fortuna é que me lembro disto. Mais, fumar sempre foi para mim, um vício, detestável. E no fundo isso não mudou. Nem mudou a minha forma de estar e cultura da saúde e do corpo. Na verdade nada mudou, a não serem as idades dos meus alunos. Deixei de dar aulas a crianças e adolescentes, e passei a ter na sala universitários, adultos que me tratam por professora em qualquer parte do Campus. Adultos que têm o hábito de sair, faça chuva ou sol, para o exterior dos edifícios entre as aulas e fumar um ou mais cigarros.
Dei por mim, várias vezes, com inveja, daqueles que sozinhos ou acompanhados se sentavam ao sol durante os 2-5 minutos entre aulas. Dei por mim a olhar para o cigarro como um companheiro, e sobretudo como uma bela desculpa para se estar sentado ao sol sozinho, sem parecer que não se tem amigos.
O sol de inverno a bater nas escadas do edifício principal…. E uma vontade enorme de me sentar, de me deitar ali – como tantas vezes, enquanto aluna – a aproveitar os 30 minutos entre uma aula e outra. E dou por mim a perceber agora, neste instante, que talvez me faça também falta o conceito de sala dos professores. Em que entre uma aula e outra há de facto um sitio onde ir, e amigos ou colegas com quem trocar uma ou duas palavras… ou talvez não. Talvez o problema sejam aquelas escadas, onde tantas vezes me sentei à tua espera. Onde tantas vezes te encontrei à minha. Há dias, em que chego com os primeiros raios de sol e vejo-te ali, a sorrir. Mas assim que saio do carro, já não estás. Só estou eu. Dez anos mais velha. A dar aulas a miúdos crescidos, como tu e eu. Fomos um dia.
3 comentários:
a minha madrinha de curso fuma. foram muitas as tardes, as noites, as madrugadas em que na faculdade ou em casa eu ouvi "okay vamos parar preciso de um cigarro" e eu que sempre fui contra o tabaco parava o meu trabalho e ia atrás, a procurar o sentido oposto à direcçao do vento e a sentar-me por 5 mins com ela. hoje esteja onde estiver a stressar com o que quer que seja, quando atinjo o meu limite penso "okay, pausa para o cigarro."é instintivo, por muito que nao fume, é assim que me está codificado na forma de ser. paro e penso no que quer que seja menos no trabalho e eventualmente volto à carga.
precisas de mudar de ares. viver com fantasmas torna-se exaustivo de mais.
beijo grande*
Miúda, concordo com a Missies Blue, estás a precisar, "órgentemente" de mudar de ares, de fazer uma escapadinha - nem que seja por 2 ou 3 dias - para não estares sempre a olhar para o passado no presente.
;)
quando quiseres vir cá abaixo apita, sim?
levo-te a uma excursão de tudo o que engorda e é bom (doce ou não) para apaziguar os ânimos e ajudar a passar algumas coisas :)
Beijo!
Vim agora aqui ler isto, a medo. De facto, há coincidências merdosas de tão certeiras. E uma sala de professores nem sempre resolve. Pois. Isto passa. Tudo passa.
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