quinta-feira, 28 de maio de 2009

O tempo de uma parede de tijolos e argamassa

Há ladrões que não são castigados embora nos roubem aquilo que é mais precioso: o tempo. 

Napoleão Bonaparte


A minha orientadora do Doutoramento é (muito bem) casada, tem duas filhas a quem já dei aulas, é lisboeta, adepta do Sporting, signo balança, a paciência em pessoa e leva o politicamente correcto a um extremo por vezes exasperante. Não podíamos ser mais diferentes.


H. foi quem me abriu as portas para trabalhar na universidade antes e depois de concluir a licenciatura mas foi também quem me obrigou a trabalhar  cinco vezes mais que os outros para a tese final.  H é das pessoas mais exigentes que conheço, com ela, com os outros. H não é arrogante, é trabalhadora e o seu nível de exigência quase impossível de alcançar.

H colocou a fasquia tão alto que pensei adiar e considerei desistir de objectivo fantasiado anos atrás. H fez-me acreditar que mesmo com todo o meu esforço, trabalho e dedicação, dia após dia, tinha de dar muito mais para chegar onde me tinha proposto e acreditava poder chegar. 

H deixou-me correr a maratona fazendo-me acreditar que estava permanentemente em 4º lugar e obrigou-me a dar a volta final à pista em sprint em busca de um 3º lugar fantasma. Não dei por mim a ultrapassar nada nem ninguém nessa recta final. Tinha falhado. Foi mais tarde, pela boca de H que ouvi a minha classificação. Primeiro. 20 Valores, parabéns, nunca tive dúvidas. Aproveita o dia de hoje e reunimos amanhã às 9h para trabalhar no laboratório. H nunca teve dúvidas mas fez-me viver delas! Não só não tinha falhado como tinha batido um record. Só eu, Deus e duas grandes amizades sabem quantas facadas dei em H, em sonhos, depois (e antes) daquela frase.

H jamais baixou a fasquia do muro que tinha de construir, mas trouxe-me alguns tijolos e explicou-me por alto e de forma rápida como se faz argamassa. 

Ontem escreveu-me a dizer que o nosso mais recente trabalho foi um sucesso em Londres e que foi aceite para outro simpósio internacional, desta vez em terras lusas. Hoje escreveu-me propositadamente para me dar nas orelhas, fê-lo como sempre, da forma mais profissional e politicamente correcta possível. Quer ver empenho e trabalho para breve que não podemos perder mais tempoA coisa que H mais valoriza é o seu tempo e gasta parte dele comigo há anos.

2 comentários:

fairy_morgaine disse...

por vezes não conseguimos prever o quão importantes as pessoas vão ser nas nossas vidas

Shadow disse...

for good and for bad!

Que bom que é ter-te por aqui de visita. bj