quarta-feira, 27 de maio de 2009

a T,i.

Hoje é o aniversário de uma ex-aluna minha. Não é uma ex-aluna qualquer, é aquela que lidera, ainda hoje, o ranking de “A mais destrambelhada de neuroine e afins”.

A propósito dos afins, T. conseguia ser destrambelhada em todas as matérias... TODAS.  Desse eu o que desse e nesse ano ensinei desportos de combate. Enquanto o meu neurónio batia no tapete num desesperante “Alguém que me tire deste filme.” T. passeava-se pela aula nos seus gritozinhos Ai e gritozões YAAAAA enquanto não mexia nenhuma parte do corpo como o pedido. No seu corpo magro, esguio T era nas minhas aulas uma marioneta desconjuntada e de fios quebrados. 


T. passou meses a pedir com a sua voz nasalada “Futebol, futebol, queremos  futebol”. No dia da primeira de 12 aulas futebol, T. estava farta ao fim de 20 minutos… Eu tinha juntado a uma marioneta desconjuntada 8 rapazes que corriam pelo campo como potros selvagens! Pior que isso, tinha juntado um objecto vivo, com personalidade e redondo: a bola. 

A única maneira de convencer T. a mexer-se durante as suas tão aguardadas aulas de futebol  foi prolongar as minhas enxaquecas e deixa-la vibrar  nos seus gritozinhos Ai e gritozões YAAAAA a cada vez que defendia uma bola! Cada vez que o remate ia fora,  o remate era interceptado, a bola saía pela lateral, a bola passava o meio-campo, a bola ia para a bancada, alguém entrava no pavilhão, alguém tinha uma camisola rosa, alguém… enfim! T gritava por tudo. T gritava por nada!


Pior que os gritinhos de T eram as suas perguntas parvas. T foi capaz de algumas perguntas e respostas mais absurdas e hilariantes que ouvi em toda a minha vida… Se perguntasse a T qual o nome de determinada linha do campo era possível e pior, provável que me respondesse linha branca ou linha preta e fazia-o sem o menor sentido de gozo (e esforço)A alguns destes momentos respondi pacientemente, outros ignorei enquanto revirava os olhos ou virava costas. Houveram ainda aqueles dignos de linha branca ou preta ou redonda que desmontaram todo o meu ar sério e mau e me deixaram lágrimas de tantas gargalhadas (minhas e da turma),  enquanto pedia a alguém que falasse a sua língua o favor de lhe pedir para descer à terra. 


T tinha tudo aquilo que eu não gostava nos alunos, vontade para trabalhar equivalente a ZERO, perguntas absurdas e despropositadas, atenção na lua, nível de desempenho motor médio-fraco e era ainda incapaz de compreender ironia. T. gostava de mim. E eu nunca percebi o porquê.


Na minha última aula coma turma de T. levei um Mars para cada um deles e expliquei a todos o quão e porque eram importantes. Dei a cada um deles a folha que, numa fase em que estavam parvos de todo, os obriguei a escrever uma qualidade sobre o colega que tinha o nome na folha e percorrer todas as folhas menos a sua. Queriam que continuasse na escola, que continuasse professora deles, para sempre! T liderava os manifestos. Enternecida prontamente respondi, para sempre?! Credo, vocês também não são assim tão burros! Bem.. não todos pelo menos. Sorri. Acedi aos últimos pedidos, dei o meu e-mail e deixei-os fazer as perguntas pessoais que tanto desejavam. Quando chegou a vez da pergunta de T. tinha o Tico e o Teco em alerta máximo a tentar antecipar o que viria dali. T. disse o quanto gostava de mim, o quanto eu a tinha ajudado, o quanto queria que eu ficasse na escola e finalmente perguntou qual era o meu numero. T. gostava de mim. E eu nunca percebi o porquê. Sorri e deixei  responder a pessoa que estranhamente ela gostava, 39/40 T, é esse o meu número, boas férias a todos e… T, juízo! Sorri. Virei costas e caminhei até à sala dos professores sem falar com ninguém, enquanto os miudos explicavam a T que claramente não ia dar o meu telemovél e o 39/40 era o numero das minhas sapatilhas. 


T. não tinha nada do que me apaixona nos alunos, tinha tudo aquilo que me irrita. Eu gostava de T. e não sabia o porquê. T fez aquilo que era suposto ser eu a fazer, conquistou-me.  Hoje agradeço-lhe. (pelo tanto que me deu, dá e ensinou.)

2 comentários:

Jade disse...

A minha melhor qualidade é sempre definida pelos alunos. Hoje um deles escreveu no quadro "the teacher is beautiful". E levou nas orelhas. Mas antes, acrescentei, em sítio próprio, mesmo antes do adjectivo, "VERY", a letras enormes. E hoje, pelo menos hoje, a minha melhor qualidade, aquela que me define, é ser linda...

;-)

Shadow disse...

Eu hoje dei uma aula "livre". Metade Andebol, metade futsal e fui jogar com eles com J-caps. E porquê? Porque a semana passada na aula de Ténis um dos professores lá do clube de ténis onde íamos ter aula perguntou: Sabem qual é a melhor jogadora do mundo? E 2 deles em coro e em pulmões: A NOSSA PROFESSORA!!!
E-G-O!!! e Riso pegado!
Com aquela vontade e certeza toda o prof de tenis nem se atreveu a tentar correcção. E fez ele muito bem :)

Fim do riso prometi que à conta daquela próxima aula escolhiam um jogo para o final da aula. Hoje comecei a aula e cedo me lembraram do que tinha prometido. Anuí e pedi só que me lembrassem o motivo... Ri-me pela segunda vez! Tão bem disposta que o jogo final virou aula toda e viemos embora todos contentes ;)

eles, estafados sorridentes: Mais aulas assim professora, mais aulas assim com a melhor prof de ginástica (reviro os olhos nesta parte) e ténis do mundo.
eu, de sorriso rasgado: Sim, mais aulas assim! mas de EDUCAÇÃO FÍSICA! vá 10 abdominais toda gente para aprenderem que ninguém me chama prof de ginástica :D UMMMMMMMMMMMMMMMMMMM, DOISSSSSSSSSSSS....

A semana passada fui a melhor professora e jogadora de tenis do mundo. Hoje também! Eles é que sabem e sabem tão bem ;)