A propósito dos afins, T. conseguia ser destrambelhada em todas as matérias... TODAS. Desse eu o que desse e nesse ano ensinei desportos de combate. Enquanto o meu neurónio batia no tapete num desesperante “Alguém que me tire deste filme.” T. passeava-se pela aula nos seus gritozinhos Ai e gritozões YAAAAA enquanto não mexia nenhuma parte do corpo como o pedido. No seu corpo magro, esguio T era nas minhas aulas uma marioneta desconjuntada e de fios quebrados.
T. passou meses a pedir com a sua voz nasalada “Futebol, futebol, queremos futebol”. No dia da primeira de 12 aulas futebol, T. estava farta ao fim de 20 minutos… Eu tinha juntado a uma marioneta desconjuntada 8 rapazes que corriam pelo campo como potros selvagens! Pior que isso, tinha juntado um objecto vivo, com personalidade e redondo: a bola.
A única maneira de convencer T. a mexer-se durante as suas tão aguardadas aulas de futebol foi prolongar as minhas enxaquecas e deixa-la vibrar nos seus gritozinhos Ai e gritozões YAAAAA a cada vez que defendia uma bola! Cada vez que o remate ia fora, o remate era interceptado, a bola saía pela lateral, a bola passava o meio-campo, a bola ia para a bancada, alguém entrava no pavilhão, alguém tinha uma camisola rosa, alguém… enfim! T gritava por tudo. T gritava por nada!
Pior que os gritinhos de T eram as suas perguntas parvas. T foi capaz de algumas perguntas e respostas mais absurdas e hilariantes que ouvi em toda a minha vida… Se perguntasse a T qual o nome de determinada linha do campo era possível e pior, provável que me respondesse linha branca ou linha preta e fazia-o sem o menor sentido de gozo (e esforço). A alguns destes momentos respondi pacientemente, outros ignorei enquanto revirava os olhos ou virava costas. Houveram ainda aqueles dignos de linha branca ou preta ou redonda que desmontaram todo o meu ar sério e mau e me deixaram lágrimas de tantas gargalhadas (minhas e da turma), enquanto pedia a alguém que falasse a sua língua o favor de lhe pedir para descer à terra.
T tinha tudo aquilo que eu não gostava nos alunos, vontade para trabalhar equivalente a ZERO, perguntas absurdas e despropositadas, atenção na lua, nível de desempenho motor médio-fraco e era ainda incapaz de compreender ironia. T. gostava de mim. E eu nunca percebi o porquê.
Na minha última aula coma turma de T. levei um Mars para cada um deles e expliquei a todos o quão e porque eram importantes. Dei a cada um deles a folha que, numa fase em que estavam parvos de todo, os obriguei a escrever uma qualidade sobre o colega que tinha o nome na folha e percorrer todas as folhas menos a sua. Queriam que continuasse na escola, que continuasse professora deles, para sempre! T liderava os manifestos. Enternecida prontamente respondi, para sempre?! Credo, vocês também não são assim tão burros! Bem.. não todos pelo menos. Sorri. Acedi aos últimos pedidos, dei o meu e-mail e deixei-os fazer as perguntas pessoais que tanto desejavam. Quando chegou a vez da pergunta de T. tinha o Tico e o Teco em alerta máximo a tentar antecipar o que viria dali. T. disse o quanto gostava de mim, o quanto eu a tinha ajudado, o quanto queria que eu ficasse na escola e finalmente perguntou qual era o meu numero. T. gostava de mim. E eu nunca percebi o porquê. Sorri e deixei responder a pessoa que estranhamente ela gostava, 39/40 T, é esse o meu número, boas férias a todos e… T, juízo! Sorri. Virei costas e caminhei até à sala dos professores sem falar com ninguém, enquanto os miudos explicavam a T que claramente não ia dar o meu telemovél e o 39/40 era o numero das minhas sapatilhas.
T. não tinha nada do que me apaixona nos alunos, tinha tudo aquilo que me irrita. Eu gostava de T. e não sabia o porquê. T fez aquilo que era suposto ser eu a fazer, conquistou-me. Hoje agradeço-lhe. (pelo tanto que me deu, dá e ensinou.)
2 comentários:
A minha melhor qualidade é sempre definida pelos alunos. Hoje um deles escreveu no quadro "the teacher is beautiful". E levou nas orelhas. Mas antes, acrescentei, em sítio próprio, mesmo antes do adjectivo, "VERY", a letras enormes. E hoje, pelo menos hoje, a minha melhor qualidade, aquela que me define, é ser linda...
;-)
Eu hoje dei uma aula "livre". Metade Andebol, metade futsal e fui jogar com eles com J-caps. E porquê? Porque a semana passada na aula de Ténis um dos professores lá do clube de ténis onde íamos ter aula perguntou: Sabem qual é a melhor jogadora do mundo? E 2 deles em coro e em pulmões: A NOSSA PROFESSORA!!!
E-G-O!!! e Riso pegado!
Com aquela vontade e certeza toda o prof de tenis nem se atreveu a tentar correcção. E fez ele muito bem :)
Fim do riso prometi que à conta daquela próxima aula escolhiam um jogo para o final da aula. Hoje comecei a aula e cedo me lembraram do que tinha prometido. Anuí e pedi só que me lembrassem o motivo... Ri-me pela segunda vez! Tão bem disposta que o jogo final virou aula toda e viemos embora todos contentes ;)
eles, estafados sorridentes: Mais aulas assim professora, mais aulas assim com a melhor prof de ginástica (reviro os olhos nesta parte) e ténis do mundo.
eu, de sorriso rasgado: Sim, mais aulas assim! mas de EDUCAÇÃO FÍSICA! vá 10 abdominais toda gente para aprenderem que ninguém me chama prof de ginástica :D UMMMMMMMMMMMMMMMMMMM, DOISSSSSSSSSSSS....
A semana passada fui a melhor professora e jogadora de tenis do mundo. Hoje também! Eles é que sabem e sabem tão bem ;)
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