Honestidade, rectidão, humildade. Capacidade de trabalho, sofrimento e encaixe. Pontualidade, simpatia, apurado sentido de humor. Inteligência, perspicácia e aptidão inata para cozinha. Herdei, nas costelas do lado esquerdo, muitas das qualidades dos genes transmontanos, mas uma das melhores ficou, infelizmente, de fora.
É certo que nasci e cresci à beira-mar, mas seria de esperar que sendo eu apaixonada por todo e qualquer desporto, por ter uma capacidade e aptidão física bem acima da média, por ser professora de Educação física, por ser sagitário ou simplesmente por ser transmontana teria uma bela, harmoniosa e natural relação com a dança. Não tenho.
O gene da dança nos transmontanos é o mesmo que nos brasileiros ou africanos. Pode estar mais ou menos desenvolvido, mas 90% gozam dele. Os outros 10%, que se esqueceram do gene na barriga da mãe, são patinhos feios. Eu não tenho a certeza de estar nos últimos dez mas... à forte possibilidade de não constar dos primeiros noventa aliam-se todos os anos de prática de artes marciais que tornam incrivelmente difícil quebrar esta postura austera, estóica, hirta e correcto-direitinha-mete-nojo-à-gaja-de-educação-física-de-nariz-empinado.
Há no entanto coisas que me fazem perder a postura (e a vergonha vá). Musicas que ensinam e convencem o pé a bater sozinho, soltam a anca, o sorriso e ordenam ao corpo que siga de forma natural e inconsciente aquele ritmo. Danço lindamente ao som de Bob Sinclair, Gwen Stefani, Madcon, Fergie (com ou sem Black Eyed Peas), Usher, 50 cent e afins… Mas são poucas as músicas que, por vontade própria, me fazem levantar do sofá e arrastam para a pista. Contudo... Lambada, Let’s Twist Again, La Bamba, fazem ainda mais que isso, fazem com que eu arraste alguém comigo lá para o meio.
Os ex (os a sério e os outros) eram todos excelentes dançarinos, e se me deixa uma mágoa ainda maior não ter a costela da dança, também permite que hoje, seja capaz de dançar um tango de Gotan Project de forma aceitável e que tenha as melhores e mais divertidas memorias a dançar ao som de Pretty Woman e Great Balls Of Fire.
Nos ex está alguém que parava a pista para ser observado sempre que decidia dar espectáculo. Alguém que trouxe para a minha realidade a cena do Scent of a Woman. Onde, por minha vontade (e agora que escrevo alguma inveja) ele fez de Al Pacino, outra mulher de par, e eu de “rapazinho apaixonado sentado na cadeira a maravilhar a cena”. Esse ex, esse alguém, foi precisamente aquele com quem nunca dancei, o que mais amei, e o único com que sonhei dançar por todo oo resto da minha vida. Mas porque a questão é sobre o que me faz dançar, aqui fica o que me fez escrever este post. Paper Planes.
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