A escola onde a minha mãe trabalha tem exactamente a minha idade. No dia em que a escola abriu oficialmente e ela passou o portão, eu já ia dentro da barriga.
Descobri muito cedo que uma escola vive muito além das 9h às 17h, dos quadros, mesas, cadeiras, alunos e professores. Nos primeiros anos e quando a minha mãe pertencia ao nocturno fui alternando o crescer com a minha avó e o crescer numa escola. Durante anos, jantei muito cedo e vi o meu irmão e o meu pai a saírem para levar o jantar à minha mãe. Durante mais alguns, fui com a minha mãe de noite até à escola, levar o jantar ou fazer companhia a alguma amiga tivesse um furo no horário ou professora que fosse de longe.
Como não havia música à noite nem aulas no bloco principal, o presidente do executivo/professor de musica/amigo da minha mãe - que dava a ideia de viver ali - abria-me a sala de música para que pudesse ir até ao piano brincar com escalas e desafiar a minha criatividade de criança. Desde cedo percebi que quem trabalha no nocturno não funciona bem da cabeça. Quando me tornei professora, pesada a brutalidade do horário para o corpo, mente e sobretudo a vida pessoal, percebi que é impossível que assim não seja. Mas quando criança, eu adorava aquele ambiente. Há algo de intimista (às vezes demais…) numa escola à noite. Entre professores. Entre alunos. E mesmo na relação professor-aluno.
Numa das muitas noites em que a minha mãe me pegou pelo braço para lhe fazer companhia numa visita à escola, era eu quem levava um saquinho de plástico. Assim que entrei na sala de professores, toda a gente me sorriu, como sempre, mas desta vez acrescentando uma vénia. Não demorei muito a descobrir que dentro do saquinho seguiam umas quantas alheiras de Mirandela, que havia quem tivesse levado broa de milho, e outros de Avintes, queimador, álcool... tudo. E agora que escrevo isto, não me lembrando, só consigo imaginar a minha desilusão ao descobrir que ninguém levou sobremesa.
Tornei-me a mascote daquela escola. Passei lá tantas horas à noite e tantas tardes nas férias que era considerada a princesa da escola. O executivo mudava. O corpo docente mudava. Os funcionários mudavam. Eu reinava… O campo de jogos e atletismo eram só meus. O trampolim e colchões estava sempre montados na sala de ginástica para que pudesse saltar. E se me cansasse de tudo isto pegava nos livros de ponto e sentava-me num dos sofás da sala a ver caretas de alunos.
Não estranhei que assim que entrei como aluna no 5º ano todos se lembrassem de mim. Que todos os meus professores, funcionários e outros tivessem andado comigo ao colo. Estranhei sim… descobrir que mais que eu e a minha mãe havia alguém que também reinava e partilhava a adoração daquela escola.
Ela, é a professora que encontrei há dias. Prometeu-me todos os anos, desde que deixei de ser sua aluna e da escola e sempre que visitava a minha mãe, que um dia daríamos aulas e a governaríamos juntas. A escola.
Descobri muito cedo que uma escola vive muito além das 9h às 17h, dos quadros, mesas, cadeiras, alunos e professores. Nos primeiros anos e quando a minha mãe pertencia ao nocturno fui alternando o crescer com a minha avó e o crescer numa escola. Durante anos, jantei muito cedo e vi o meu irmão e o meu pai a saírem para levar o jantar à minha mãe. Durante mais alguns, fui com a minha mãe de noite até à escola, levar o jantar ou fazer companhia a alguma amiga tivesse um furo no horário ou professora que fosse de longe.
Como não havia música à noite nem aulas no bloco principal, o presidente do executivo/professor de musica/amigo da minha mãe - que dava a ideia de viver ali - abria-me a sala de música para que pudesse ir até ao piano brincar com escalas e desafiar a minha criatividade de criança. Desde cedo percebi que quem trabalha no nocturno não funciona bem da cabeça. Quando me tornei professora, pesada a brutalidade do horário para o corpo, mente e sobretudo a vida pessoal, percebi que é impossível que assim não seja. Mas quando criança, eu adorava aquele ambiente. Há algo de intimista (às vezes demais…) numa escola à noite. Entre professores. Entre alunos. E mesmo na relação professor-aluno.
Numa das muitas noites em que a minha mãe me pegou pelo braço para lhe fazer companhia numa visita à escola, era eu quem levava um saquinho de plástico. Assim que entrei na sala de professores, toda a gente me sorriu, como sempre, mas desta vez acrescentando uma vénia. Não demorei muito a descobrir que dentro do saquinho seguiam umas quantas alheiras de Mirandela, que havia quem tivesse levado broa de milho, e outros de Avintes, queimador, álcool... tudo. E agora que escrevo isto, não me lembrando, só consigo imaginar a minha desilusão ao descobrir que ninguém levou sobremesa.
Tornei-me a mascote daquela escola. Passei lá tantas horas à noite e tantas tardes nas férias que era considerada a princesa da escola. O executivo mudava. O corpo docente mudava. Os funcionários mudavam. Eu reinava… O campo de jogos e atletismo eram só meus. O trampolim e colchões estava sempre montados na sala de ginástica para que pudesse saltar. E se me cansasse de tudo isto pegava nos livros de ponto e sentava-me num dos sofás da sala a ver caretas de alunos.
Não estranhei que assim que entrei como aluna no 5º ano todos se lembrassem de mim. Que todos os meus professores, funcionários e outros tivessem andado comigo ao colo. Estranhei sim… descobrir que mais que eu e a minha mãe havia alguém que também reinava e partilhava a adoração daquela escola.
Ela, é a professora que encontrei há dias. Prometeu-me todos os anos, desde que deixei de ser sua aluna e da escola e sempre que visitava a minha mãe, que um dia daríamos aulas e a governaríamos juntas. A escola.
4 comentários:
=)
agora porque nao consigo fazer um comentario decente e serio como este post merece, vou so aparvalhar, porque preciso mesmo:
Tu tinhas trampolins à tua disposição SEMPRE????? *oh inveja é coisa tao feia...*
Bom 2010 ;)
Pois não sei o que este texto merece como comentário lol.
Acho que tive durante um ano, férias de Carnaval, pascoa e de verão. Na altura achava que era para mim, provavelmente ninguém queria era dar-se ao trabalho de desmontar e voltar a montar no inicio do ano LOL.
Enfim, agora dou aulas noutras condições e realidade. Monto e desmonto por AULA! (e o que me doí na alma quando são aulas de 45min apenas e não dá para aproveitar para a turma seguinte)
o comentario serio que este texto merece é o de mesmo provavelmente nao saberes na altura, já eras feliz com aquilo que seria o teu futuro já lhe pertencias e já ele te pertencia e já nessa altura reinavas =)
e é bom de mais saber a onde pertencemos e o que nos faz feliz.
e termos um modelo a seguir e mais tarde ver-nos igualadas a esse mesmo modelo, hum... um dos pontos importantes da tua vida, já o atingiste =)
mas estas palavras à bocado nao estavam bem organizadas e tva (e continuo) demasiado focada nos trampolins! - em nenhuma aula de ginastica me puseram um à frente -.-'
siiiiiim... nao tao bem como tu de certeza, mas lembro-me perfeitamente de montar e desmontar "campos" com a turma antes e depois das aulas. e aulas de 45mins nao chegam para nada, qto mais p montar e desmontar material x\
Diz quem me conhece... que com com 5 anos já dizia que queria ser professora de ginástica! (E hoje odeio essa expressão de morte).
Eu já só me lembro de andar no 5º ano e escrever das fichas que perguntavam isso: Professora de Inglês/História/Ed. Fisica...
A verdade é que a escola sempre foi o meu objectivo. E realiza-me. Estaria bem profissionalmente, sem precisar de mais nada... Mas a malta à volta já só me vê com o Doutoramento. E bem, será um passo ao lado, para se tornar um passo em frente.
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